Uma vez mais nos reencontramos, nesta oportunidade para lhes apresentar uma proposta diferente de nossas edições anteriores: na atual, nosso número 11, exploramos, pela primeira vez, a possibilidade de publicar, em um mesmo número, a versão de textos de diferentes autores. Trata-se da seleção de alguns contos e microcontos da antologia recentemente publicada Escândalos reinventados (Bestiário, 2017), organizada pelo escritor gaúcho Pedro Gonzaga, que se dedica à poesia e à microficção. Seus autores são jovens escritores do sul do Brasil, e o livro é resultado do trabalho realizado na oficina de escrita criativa coordenada por Gonzaga em Porto Alegre.
Assumimos o belo desafio de abordar a proposta de versões de textos de autores “em desenvolvimento”, uma aposta que não está livre de riscos, pois há tradutores literários que geralmente defendem a regra de que não se deve traduzir textos de um autor cuja obra não tenha sido lida, advogando pela importância de leituras e releituras de tudo que tenha sido publicado; provavelmente, muitos tradutores adotem esta conduta no que diz respeito às obras do autor a ser traduzido. No entanto, o que ocorre quando trabalhamos com autores iniciantes, dos quais não há obra completa publicada, como acontece com Escândalos reinventados e os contos de Irka Barrios, Luciano Sclovsky, Leonardo Pereira, Dris Sampaio, Luiza Silva, Guilherme Almeida, Marina Wodtke, Fernanda Rosa, Jane Felipe, Lucas Borne? Transitar por todos esses autores em uma mesma edição implicou, para a versão, a entrada e a saída de diferentes narrativas, opções estilísticas e universos ficcionais.
Sem dúvida, esse desafio fez com que abordássemos esquemas de tradução diversos; no entanto, assim como confiaram no projeto Pontis para nos dar a oportunidade de publicar traduções de diferentes autores (tarefa realizada por este grupo em contínua formação como tradutores literários), acreditamos ser importante também dar a nossa contribuição para propiciar a circulação de setores da literatura dificilmente abarcados pelo mercado editorial, em sua lógica atual.
Conversamos com Pedro Gonzaga na seção “Apresentação do autor” sobre a coletânea, as particularidades de sua criação, suas considerações a respeito da microficção, além de algumas de suas opiniões sobre a tradução literária desses textos.
Esta nova publicação está composta por cinco contos:
● “Conto do vigário”, de Jane Felipe. Em um diálogo com seu pai, um menino revela um segredo nauseante. Traduzido por María Noel Melgar.
● “O falsário do concerto”, de Lucas Borne. Um homem padece de uma terrível insônia e encontra a salvação: o custo será manter uma mentira. Traduzido por Leticia Lorier.
● “A janela do quarto”, de Fernanda Rosas. Uma mulher solitária observa, por sua janela, as atividades de seu vizinho. Traduzido por Mayte Gorrostorrazo.
● “Fluxo lento”, de Dris Sampaio. Uma mulher aproveita os tempos ociosos em seu carro para refletir sobre a vida. Traduzido por Federico Sörensen.
● “Tio”, de Leonardo Pereira. Depois de uma morte, uma menina procura encontrar seu lugar no mundo. Traduzido por Verónica Machado.
E também por cinco microcontos:
● “Extraterrestre?”, traduzido por Verónica Machado.
● “Fins”, traduzido por Manuela Pequera.
● “Potência”, traduzido por Verónica Machado.
● “13 de dezembro”, traduzido por Manuela Pequera.
● “Vou contar exatamente como aconteceu”, traduzido por Manuela Pequera.
Como é de praxe em nosso processo de tradução, uma vez mais contamos com a colaboração de docentes de universidades brasileiras. Nesta oportunidade, nossas versões foram comentadas por Carlos Rizzon, professor doutor da Universidade Federal do Pampa.
Para a seção “O fazer do tradutor”, convidamos as docentes Dra. Regina Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) e Dra. Renata Mancini (Universidade Federal Fluminense, Brasil), que, em seu artigo “Uma introdução à semiótica discursiva”, apresentam uma aproximação aos constructos teóricos da semiótica francesa.
Mediante o desenvolvimento de três níveis de análise, as autoras propõem ferramentas para a análise textual que consideram pertinentes na tarefa do tradutor.
Além das gravações das leituras dos textos originais e versões que acompanham os contos, contamos com a ambientação sonora do conto “13 de dezembro”, realizada por Leandro Fernández Minetti, que, também, que deu voz ao conto. Agradecemos a José de Brum por sua colaboração na edição das gravações. Todos os áudios de Pontis estão disponíveis em nosso canal do Youtube. Convidamos a que se inscrevam!
As ilustrações dos textos literários deste número foram realizadas por Verbena Carvalho e Isabel Marques, que, mediante as técnicas de aquarela e pastel, reproduziram sua leitura dos mencionados textos. Por sua vez, o retrato dos autores corresponde a uma foto do grupo de escritores e do coordenador da antologia, gentilmente cedida por Leonardo Pereira a Pontis.
Agradecemos a todos por nos acompanhar e esperamos que aproveitem a leitura.
Integrantes de Pontis.