Extraterrestre? Luciano Sclovsky Na adolescência ficava olhando para o céu noturno, na espera...
Luciano Sclovsky
Na adolescência ficava olhando para o céu noturno, na esperança de avistar um disco voador. Então um dia, por um décimo de segundo, lá está o ET. Um traje longo e solto preto, um capacete esquisito, com partes metálicas brilhando. Parecia ter vindo de um episódio de Star Trek, mas era uma mulher fumando na frente de um salão de beleza.
Luciano Sclovsky
En la adolescencia me quedaba mirando al cielo nocturno con la esperanza de avistar un plato volador. Entonces, un día, por una milésima de segundo, allá está el ET. Un traje negro largo y suelto, un casco extraño, con partes metálicas brillantes. Parecía haber salido de un episodio de Star Trek, pero era una mujer fumando en el frente de una peluquería.
Traducción de Verónica Machado.
Lucas Borne
Engraçado como a gente se acostuma a mentir. Não sei se é uma coisa que nasce com a gente, mas começa cedo na infância, para tentar escapar de um castigo ou testar a esperteza dos pais ou de um tio. Depois, quando crescemos, as mentiras ficam mais elaboradas, usadas para todo tipo de propósito. Eu, pessoalmente, não tenho problemas morais em mentir, desde que ninguém saia perdendo ou se machuque, para mim está tudo bem. E, se puder me dar bem um pouquinho neste processo, melhor ainda.
Para uma mentira ser convincente, o mentiroso precisa acreditar na conversa-fiada, ou parecer que acredita. Um pouco de teatrinho e indumentária também ajudam, principalmente na parte de roupas e acessórios. Não me entendam mal, não sou golpista nem gosto de enganar as pessoas, mas, quando me dei conta, já estava tão enroscado naquela história que decidi me afundar de vez.
A tela do celular se acende.
— Amorzão, cadê você? Estou aqui no salão de entrada.
Lucas Borne
Es gracioso cómo nos acostumbramos a mentir. No sé si es algo que nace con nosotros, pero comienza temprano en la infancia, para intentar escapar de algún castigo o poner a prueba la astucia de los padres o de un tío. Después, cuando crecemos, las mentiras se vuelven más elaboradas, se usan para todo tipo de propósito. Personalmente, no tengo problemas morales en mentir, siempre que nadie salga herido o perdiendo, por mí está todo bien. Y si en el proceso salgo bien parado, mejor todavía.
Para que una mentira sea convincente, el mentiroso necesita creerse el cuento o aparentar que se lo cree. Un poco de teatro e indumentaria también ayudan, principalmente en cuanto a vestuario y accesorios. No me malentiendan, no soy un estafador ni me gusta engañar a la gente, pero cuando me di cuenta ya estaba tan enredado que decidí ir hasta el fondo del asunto de una vez.
La pantalla del celular se prende.
—¿Amor, dónde estás? Estoy acá en la entrada.
— Estou no banheiro, ocupado. (Emoji do cocô). Vou demorar.
— Tá, vou estar na bombonière. Beijos.
Vejam vocês, eu tenho um grave problema: insônia. Não essas que o povo diz que tem. Aquela coisa fraquinha de demorar a dormir. A minha insônia deve ser a pior do mundo, porque não consigo dormir mesmo, só algumas pestanejadas que não ajudam muito. Por causa disso, estou sempre de mau humor, azia, com a cara fechada e uma dor de cabeça que parece aquela nuvenzinha cinza em cima do sujeito nos desenhos animados. Só consigo dormir de verdade em uma ocasião: em um concerto de música (preferencialmente uma orquestra). Quando o maestro faz o primeiro movimento com a batuta... Bam! Sono profundo. E quando o concerto termina, acordo sozinho e completamente revigorado. Descobri por acaso, quando ganhei um ingresso em uma promoção qualquer e, como estava desocupado, terminei indo ver o concerto. Não que eu não goste de música clássica, pelo contrário, mas, como estou sempre cansado, eu preferia evitar a fadiga e ficar em casa mesmo. Quando encontrei a solução dos meus problemas, na verdade encontrei mais um problema. Agora precisava me mesclar perfeitamente com a plateia para não ser incomodado.
—Estoy en el baño, ocupado. (Emoji del soretito.) Voy a demorar.
—Ta, voy a estar en el café. Beso.
Vean ustedes, tengo un grave problema: insomnio. No de esos que la gente dice que tiene. Esa pavadita de demorar un poco en dormirse. Mi insomnio debe ser el peor del mundo, porque no puedo dormir en serio, solo algunos pestañeos que no ayudan mucho. Por eso estoy siempre de mal humor, con acidez, cara larga y un dolor de cabeza que parece esa nube gris arriba de un tipo en los dibujitos animados. Solo puedo dormir de verdad en una situación: en un concierto de música (preferentemente una orquesta). Cuando el director hace el primer movimiento con la batuta… ¡Paf! Sueño profundo. Y cuando el concierto termina, me despierto solito y completamente renovado. Lo descubrí de casualidad, cuando gané una entrada en una promoción y, como estaba sin hacer nada, terminé yendo a ver el concierto. No es que no me guste la música clásica, al contrario, pero como siempre estoy cansado, prefería evitar la fatiga y mejor quedarme en casa. Cuando encontré la solución a mis problemas, en realidad encontré otro problema. Ahora necesitaba mezclarme perfectamente con la audiencia para que no me molestaran.
A vestimenta é importante. Se eu chegasse em um concerto com uma camisa de futebol e boné, seria a mesma coisa que colocar um holofote em mim. O conjunto que eu mais uso é um terno xadrez, camisa marrom e gravata borboleta azul-marinho. Às vezes uso um chapéu velho que herdei do vô, e, quando quero fazer pose de verdade, pego a bengala. Mas a peça-chave aqui são os óculos escuros redondos e bem grandes. Já entenderam, né?
A pose também é importante. Depois de sentar na cadeira (em um lugar mais isolado, preferencialmente nas fileiras da lateral ou do mezanino), cruzo os braços em cima da minha barriga e fico em uma pose altiva e focada. Quem olhar para mim pode jurar que estou concentrado ouvindo música, apreciando profundamente os sons eruditos.
A tela do celular se acende.
— Tá demorando. Vou aproveitar e ir na farmácia aqui no lado, rapidinho.
— De novo? Tu sempre com a bolsa cheia de remédios e precisa de mais ainda?
La vestimenta es importante. Si llegara a un concierto con una camiseta de fútbol y un gorro, sería lo mismo que ponerme un reflector. El conjunto que más uso es un traje a cuadros, camisa marrón y corbatín azul marino. A veces uso un sombrero viejo que heredé del abuelo y, cuando quiero hacer bien el personaje, agarro un bastón. Pero la pieza clave ahí son los lentes oscuros redondos y bien grandes. Ya entendieron, ¿no?
La postura también es importante. Después de sentarme en la butaca (en un lugar más aislado, preferentemente en las filas laterales o en la tertulia), cruzo los brazos encima de mi barriga y me quedo en una pose ilustre y atenta. El que me mire puede jurar que estoy concentrado escuchando la música, apreciando profundamente los sonidos eruditos.
La pantalla del celular se prende.
—Te estás demorando. Aprovecho y voy a la farmacia de acá al lado, vuelvo enseguida.
—¿Otra vez? Vos siempre estás con la cartera llena de remedios, ¿y necesitás más todavía?
— Não começa, nem são tantos assim. Gosto de andar preparada.
— Ok, mas não demora, já estou terminando.
Depois de um tempo frequentando os concertos (sim, todos que encontrava pela frente), acabei construindo uma reputação de conhecedor e entusiasta de música clássica e erudita. Como acordava descansado e disposto, acabava indo para os salões de entrada e halls para me enturmar com os outros colegas. O problema é que eu não entendo quase nada do assunto, então costumava ficar calado, ouvindo. Comecei a pegar o ritmo e os temas das conversas, e acho que gostavam de mim, pois sempre acabava formando uma rodinha de gente ao meu redor. Acho que tenho um talento para a mentira, ou vai ver era o vinho que o povo tomava.
Querendo ou não, fiquei conhecido no meio. Até famosinho. Por causa disso, me ofereceram uma posição de colunista, e agora o que era lazer ou necessidade acabou virando meu ganha-pão. Continuo não entendendo de música, mas nem precisa, copio tudo de algum lugar e só mudo algumas palavras. Se é para mentir, que seja com vontade.
—No empieces, tampoco son tantos. Me gusta estar preparada.
—Ok, pero no demores, ya estoy terminando.
Después de un tiempo de ir a conciertos (sí, a todos los que se me cruzaban por delante), terminé construyendo una reputación de conocedor y entusiasta de la música clásica y erudita. Como me despertaba descansado y dispuesto, terminaba yendo a las salas de entrada y halls para reunirme con los otros colegas. El problema es que yo no entiendo casi nada del tema, entonces solía quedarme callado, escuchando. Empecé a agarrar el ritmo y los temas de conversación, y me parece que les caía bien, porque siempre se terminaba formando un círculo de gente a mi alrededor. Me parece que tengo un talento para la mentira o, andá a saber, sería el vino que la gente tomaba.
Queriendo o no, me hice conocido en el medio. Hasta medio famoso. Por ese motivo, me ofrecieron un trabajo de columnista, y ahora lo que era ocio o necesidad terminó transformándose en mi pan de cada día. Sigo sin entender nada de música, pero no es necesario, copio todo de otro lado y solo cambio algunas palabras. Si se va a mentir, que sea a lo grande.
E estava tudo indo bem até hoje. Respiro fundo e me olho no espelho: o mesmo gordo careca com cabelo comprido de sempre, só que agora nervoso. Nossa! Como estou vermelho e suado. Lavo o rosto, dou uma penteada. Respiro fundo. Que queimação dos infernos. Será só nervosismo ou comi algo pesado hoje?
Saio do banheiro e vou para a bombonière. No caminho, cumprimento alguns conhecidos. O maestro vem apertar minha mão.
— Demis, que honra, o senhor por aqui.
— Boa noite, Sr. Atanásio. Sempre bom ver o maestro. Tudo pronto para o espetáculo?
— Sim, com certeza. Por falar nisso, preciso correr.
A Magda não voltou ainda, e eu procuro algo para comer. Só porcarias. Só vai piorar minha queimação. Mesmo assim, eu compro a porcaria e começo a mastigar. Por que estou nervoso? Ora, porque é a primeira vez que ela veio ver um concerto junto. Eu não convidei, ela simplesmente apareceu do nada. E agora, como fico? Não vou conseguir dormir com ela do lado e, se conseguir, como vou explicar a situação pra ela? Que bela bosta. Justo eu, perito em enganar neste meio, não consegui pensar em nada.
Y todo andaba bien, hasta hoy. Respiro hondo y me miro al espejo: el mismo gordo pelado con pelo largo de siempre, solo que ahora nervioso. ¡Pa! Qué colorado y sudado estoy. Me lavo la cara y me peino un poco. Respiro hondo. Qué acidez mortal. ¿Será solo por los nervios o que hoy comí algo pesado?
Salgo del baño y voy al café. En el camino saludo a algunos conocidos. El director viene a darme la mano.
—Demis, qué honor usted por aquí.
—Buenas noches, señor Atanásio. Siempre es bueno verlo, director. ¿Todo listo para el espectáculo?
—Sí, claro. Hablando de eso, me voy corriendo.
Magda no volvió todavía y busco algo para comer. Solo hay porquerías. Solo va a empeorar el ardor. Igual, compro una porquería y empiezo a masticar. ¿Por qué estoy nervioso? Y… porque es la primera vez que ella vino a ver un concierto conmigo. Yo no la invité, simplemente apareció de la nada. ¿Y ahora?, ¿qué hago? No voy a poder dormir con ella al lado y, si pudiera, ¿cómo voy a explicarle la situación? Una real cagada. Justo yo, experto en engañar en este medio, no pude pensar en nada.
— Oi, amor! (Beijos e abraços).
— Achou o que tu queria na farmácia?
— Sempre acho algo. Nossa! Como tu tá suando, o que houve?
— Acho que foi algo que comi, estou meio enjoado. Vamos indo?
O lugar dessa vez estava mais que propício. Na ponta do mezanino, o resto dos espectadores tem parte da visão ofuscada pela luz do palco. Um dos meus favoritos, garantia de sono profundo. Mas, assim que sentamos, só senti mal-estar. Um pouco de papo-furado, conversa mole. Eu gosto dela, de verdade, mas tudo que eu queria agora é que ela fosse embora.
Entra a orquestra, mesura. Começam a afinar os instrumentos em uma cacofonia musical. Entra o maestro, mesura.
Começa o concerto, e, infelizmente, o sono vem. Mais fraco, mas vem, e ela percebe. Nos falamos sussurrando.
— Nossa, Demi, tu tá bem mesmo? Parece tonto.
— É o enjoo... ou azia.
—¡Hola, amor! (Besos y abrazos.)
—¿Encontraste lo que querías en la farmacia?
—Siempre encuentro algo. ¡Pa! Estás re sudado, ¿qué te pasó?
—Creo que fue algo que comí, estoy con un poco de náuseas ¿Vamos yendo?
El lugar esta vez era más que adecuado. En la punta de la tertulia, el resto de los espectadores tiene parte de la vista bloqueada por la luz del escenario. Uno de mis favoritos, garantía de sueño profundo. Pero fue sentarnos y empecé a sentirme mal. Un poco de charla banal, conversación intrascendente. Yo la quiero, en serio, pero lo único que quería ahora era que se fuera.
Entra la orquesta, saluda. Empiezan a afinar los instrumentos en una cacofonía musical. Entra el director, saluda.
Empieza el concierto y, lamentablemente, viene el sueño. Más leve, pero viene, y ella se da cuenta. Nos hablamos susurrando.
—Pa, Demi, ¿vos estás bien en serio? Parecés mareado.
—Son las náuseas… o la acidez.
— Quer um remedinho pra isso?
— Tu sabe que não gosto de tomar remédio assim, isso eu deixo pra ti com essa tua mania.
— Ai, como tu é. Olha aqui, acabei de comprar na farmácia porque tinha acabado em casa, pode tomar, não faz mal nenhum. Olha aqui, na bula diz que o único efeito colateral que pode acontecer é um pouco de sonolência.
Salvo pelo gongo. Ou melhor, antiácido.
—¿Querés una pastillita para eso?
—Sabés que no me gusta tomar remedios por cualquier cosa, eso te lo dejo a vos, que es manía tuya.
—Ah, cómo sos. Mirá, recién compré en la farmacia porque en casa no había más, tomá, no te va a hacer ningún mal. Mirá, el prospecto dice que el único efecto colateral que puede tener es un poco de somnolencia.
Me salvó la campana. O mejor, el antiácido.
Traducción de Leticia Lorier.