O segundo ano de Pontis está começando e o projeto continua avançando. E ele traz novidades. A equipe está com mudanças, a família se movimenta, fica maior, renovada. Tanto Amanda quanto Carla estarão afastadas do cotidiano editorial, mas isso não significa que não estarão mais presentes; apenas continuarão fazendo parte do trabalho de um lugar diferente. Por sua vez, temos novas incorporações ao nosso grupo de colaboradores, especificamente profissionais das línguas portuguesa e espanhola, da tradução e da literatura, que irão nos ajudar na revisão, tradução e cotejo dos nossos textos, todas tarefas essenciais para o funcionamento da nossa revista. Eles são Luana Pinheiro, Marcos Rattín, Paula Salem e Sebastián Torterola.
Nesta edição, iniciaremos a abordagem da literatura negra como eixo para duas edições: a presente, correspondente a um autor brasileiro; e a seguinte, que, naturalmente, será sobre um autor uruguaio. Neste número, apresentamos Jeferson Tenório, escritor carioca nascido em 1977 que atualmente reside em Porto Alegre, mestre em Literaturas Luso-Africanas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Autor de obras premiadas em diferentes concursos, em 2014 ele também foi agraciado por seus colegas da Associação Gaúcha de Escritores com o prêmio de Livro do Ano pelo romance O beijo na parede.
Os estudos sobre discursos tradicionalmente ignorados, como os pertencentes a grupos étnicos marginalizados, estigmatizados e reprimidos, vêm adquirindo relevância nos últimos anos devido a um crescente olhar crítico do papel tradicional dos Estados e das academias nesse sentido. A importância de salientar a diversidade de uma sociedade como elemento a ser destacado em termos de riqueza cultural e de valorização de diferentes sensibilidades de setores vulnerados e vulneráveis permite que essas problemáticas sejam discutidas mais abertamente. De fato, com a publicação de artigos e entrevistas em diferentes mídias, o autor que apresentamos nesta edição ajudou a abrir o debate sobre políticas editoriais e argumentos técnicos das academias.
Neste sentido, a nossa posição perante tais discussões está alinhada à visão do escritor Tenório, pois entendemos que muitas vezes a divulgação de autores novos (e de outros nem tão novos) se vê afetada por critérios extra-literários. Desta forma, o nosso trabalho pretende ser uma pequena janela para a disseminação de vozes que nem sempre têm a oportunidade de serem ouvidas.
Os textos selecionados para esta edição são três fragmentos que correspondem a novelas homônimas, a saber:
● O beijo na parede, romance no qual João, um menino de 11 anos, é levado para morar em uma cidade que lhe é estranha, onde fica subitamente desamparado e é obrigado a sobreviver em um ambiente que o desafia a encontrar o seu próprio caminho; tradução de Leticia Lorier.
● A casa vazia, romance inédito baseado na história real de uma família que se trancou durante dois anos em uma casa do interior de São Paulo; tradução de Verónica Machado;
● Estela sem Deus, obra inédita a ser publicada no presente ano, que narra o encontro de Estela, uma menina de 16 anos que parte para morar com a sua madrinha no Rio de Janeiro, com uma cartomante de 75 anos, o que propicia uma reflexão sobre o tempo, a vidência e a arte da adivinhação; tradução de Mayte Gorrostorrazo;
e dois relatos breves:
● “Ninguém jogará as cinzas do pai sobre as pontes de Madison”, história sobre um encontro inesperado no velório do pai da protagonista; tradução de Maria Noel Melgar;
● “Ensaio sobre o fim das coisas”, reflexões de um professor que está prestes a se aposentar sobre o seu legado, a sua vida e, precisamente, sobre o fim das coisas; tradução de Federico Sörensen.
Para a presente edição, como em edições anteriores, a fase prévia à publicação das traduções contou com a revisão de Cleci Bevilacqua, Liliam Ramos e Karina Lucena, professoras da UFRGS e colaboradoras permanentes que tornam este projeto possível.
Também continuamos com a gravação em áudio dos textos literários de ambas as versões da revista, original e traduzida, graças às colaborações de Federico Falco e da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade da República, no Uruguai. Nesta edição também participaram Mivla Pintos, proveniente da fronteira e há muitos anos docente de português na capital uruguaia; e Marta Costa, carioca residente em terras nórdicas, por muito tempo docente de língua portuguesa na Universidade de Estocolmo e apresentadora de rádio nessa cidade. Elas cederam suas vozes para a leitura em português dos relatos “O beijo na parede” e “A casa vazia”, respectivamente.
Além disso, com o objetivo de acrescentar à revista um novo aspecto artístico, no nosso segundo ano de publicação incorporamos a musicalização de um conto por número. Para esta edição, selecionamos “A casa vazia”, e a leitura de Marta Costa foi interpretada pelo violonista artiguense Mario Rodríguez Lagreca.
Nesse novo ano continuamos com a colaboração de desenhistas que, através das suas ilustrações, enriquecem a nossa publicação por meio das artes plásticas. É por isso que agradecemos a Zulma Giménez, que esteve a cargo de dar vida aos textos escolhidos para esse número; e Emiliano Santos, o nosso retratista da seção “Apresentação do autor”.
Na seção intitulada “O fazer do tradutor”, desta vez contamos com a valiosa contribuição de Liliam Ramos, que reflete em torno de “o quanto a participação do tradutor nas obras incluídas na perspectiva pós-colonial será determinante na (re)produção de um texto que precisa transpor à cultura de chegada muito mais do que aquilo que está registrado graficamente no papel”, uma inquietude sempre presente no trabalho de Pontis durante todo o processo de tradução e edição das obras literárias escolhidas.
Por sua vez, para a seção “Apresentação do autor”, realizamos uma entrevista a Jeferson Tenório, onde conta sobre seus começos na escrita, suas influências e o seu papel como escritor afro-brasileiro, sua visão sobre a tradução, e também nos revela que parte da sua técnica é deixar que os textos “envelheçam” dentro dele antes de publicá-los; isso, afirma, é o mais honesto que ele pode fazer com a sua literatura.
Iremos continuar com as nossas atividades de divulgação, e é por isso que na sexta-feira, 7 de abril, apresentaremos esta edição na Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, em Porto Alegre, Brasil. Lá teremos a oportunidade de conversar com o escritor homenageado, além de ter a participação de docentes do Núcleo de Estudos de Tradução Olga Fedossejeva (NET) do Instituto de Letras da UFRGS, e de integrantes da equipe editorial de Pontis. O objetivo dessa atividade é a divulgação do nosso trabalho além das fronteiras uruguaias, e também nos aproximarmos de um público diferente por meio da tradução literária, promovendo o encontro e o intercâmbio entre línguas vizinhas, um objetivo permanente da equipe de Pontis.
Mais uma vez, agradecemos a todos os que tornam possível o nosso trabalho. Vamos por mais um ano juntos. Boa leitura!
Integrantes de Pontis.