Aos poucos vamos nos aproximando do final do ano com este projeto que continua crescendo. Nossos últimos dois números de 2016 estarão dedicados à tradução de crônica, gênero intermediário entre o jornalismo e a literatura. Para esta edição, contamos com a inestimável colaboração de Rosario Lázaro Igoa, que se responsabilizou por selecionar o autor, pré-selecionar as obras a serem traduzidas e a escrever os textos correspondentes às seções “O fazer do tradutor” e “Apresentação do autor”, este último em coautoria com o professor Walter Carlos Costa, do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Na primeira dessas seções, apresentamos o texto intitulado “Notas sobre a tradução de crônica”. Lázaro inicia esse trabalho afirmando que “traduzir crônica é, sobretudo, e sem desmerecer aspectos específicos da passagem entre duas línguas ou desafios do gênero em particular, um gesto que promove a circulação em sentido amplo”. A autora prossegue mencionando brevemente as palavras de um dos mais importantes críticos literários brasileiros, Antonio Candido, que lembra que o destino primeiro de uma crônica é o papel de jornal, e destaca que a efemeridade do meio faz com que o suporte desses textos tenha como destino último forrar o chão da cozinha. É por isso que, no artigo, ressalta-se quão interessante é a tradução de crônica, pois é uma contribuição na circulação de textos entre diferentes tradições deste gênero. Neste número, trabalhamos com
crônicas publicadas em Pathé Baby, uma obra de Antônio Castilho de Alcântara Machado de Oliveira (1901-1935), conhecido mais brevemente como Alcântara Machado, autor fundamental do movimento modernista brasileiro. No texto de apresentação desse escritor, correspondente à seção “Apresentação do autor”, Costa e Lázaro Igoa nos contam: “Pathé Baby, de 1926, reuniu crônicas publicadas no Jornal do Comércio no ano anterior, durante a viagem de oito meses de Alcântara Machado pela Europa”. Os autores mencionam um dado curioso em relação ao nome da obra selecionada: Pathé Baby também é o nome de um tipo de sistema de reprodução cinematográfica, criado por Charles Pathé na França em 1922, destinado ao público em geral, de pequenas dimensões e com todo o necessário para poder aproveitar o cinema em casa, que se tornou popular nas décadas seguintes. Talvez seja possível interpretar que o título da obra responda a um paralelismo simbólico entre este tipo de filmagem e as características da crônica como gênero particular.
Do livro Pathé Baby, selecionamos cinco crônicas que desenham uma Europa peculiar, um pouco diferente da conhecida naquela época nas latitudes do sul. O autor propõe relatos repletos de imagens que são autênticos retratos de um continente ruidoso, envelhecido, grotesco, mas com uma beleza diferente, terrena, mais humana; uma visão menos idealizada do velho continente. As crônicas selecionadas para integrar este número são:
● “Assis”: a beleza de Assis, a perfeição e a suntuosidade da arte sacra que ultrapassa todos os sentidos. Traduzida por Mayte Gorrostorrazo.
● “Charing Cross”: um percurso pela ruidosa Londres, em que se cruzam multidão, luzes e agitação. Traduzida por Manuela Pequera.
● “A tourada”: detalhes de uma sangrenta corrida de touros; a selvageria do público, o humano da fera. Traduzida por María Noel Melgar.
● “País da música”: a festa de rua e o entusiasmo italiano se misturam com o olhar estrangeiro no carnaval veneziano. Traduzida por Verónica Machado.
● “Paris”: um baile frenético que convoca todas as etnias, classes e idades; ali não há lugar para juízos morais. Traduzida por Leticia Lorier.
Pontis continua firmemente convencida de seu projeto de tradução colaborativa, pois entende que é esta prática a que permite nos formarmos continuamente, construirmos pontes entre pares e crescermos mediante a interpelação, a discussão e a construção coletiva. É por isso que foram feitas alianças com equipes de diferentes universidades brasileiras. Particularmente, neste número, trabalhamos com a UFSC, onde foi ministrada, no mês de setembro, a oficina “Crônica: oficina de tradução castelhano-português e português-castelhano, revisão e edição”, organizada pelo PGET. Foi neste âmbito em que se realizou a revisão coletiva das crônicas publicadas na presente edição de nossa revista. Esta colaboração foi possível graças ao já mencionado professor Walter Carlos Costa e a Rosario Lázaro Igoa, colaboradora permanente de Pontis e pós-doutoranda do PGET. Na revisão das traduções ao espanhol das crônicas deste número participaram os seguintes estudantes: Silvio Somer, Davi Silva Gonçalves, Leide Daiane de Almeida Oliveira, Myrian Vasques Oyarzabal, Larissa Ceres Rodrigues Lagos, Naylane Araújo Matos, Paulo Henrique Pappen, Ana Maria Martins Roeber, Sophia Caroline Samenezes de Jesus, Thiago André dos Santos Veríssimo e Verônica Rosarito Ramirez Parquet Rolón.
Além de trabalhar na preparação do presente número, durante setembro e outubro ministramos duas oficinas sobre tradução literária português-espanhol: uma em Montevidéu, no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro; e outra em Rivera, no Centro de Profesores del Norte de ANEP. Contando ambas as atividades, tivemos a assistência de aproximadamente cem participantes, entre eles estudantes, docentes, tradutores e outros profissionais vinculados à área e interessados em tradução literária. Adiantando o lançamento de Pontis n.º 5, organizamos a palestra “Crónica en traducción. Apuntes sobre la circulación entre Brasil y el Río de la Plata”, a cargo de Lázaro Igoa.
Tendo também o objetivo de difundir regionalmente o projeto e de estabelecer novas pontes de intercâmbio, apresentamos o trabalho intitulado “La traducción literaria como proyecto colaborativo. La propuesta de la revista Pontis - Prácticas de Traducción” no I Congresso Internacional de Língua Portuguesa, organizado pela Universidad de Santiago de Chile e realizado na mesma instituição nos dias 13 e 14 de outubro. Nessa ocasião, tivemos a oportunidade de conversar com docentes e estudantes de português não somente do Chile, mas também de países de fala portuguesa, como Brasil, Portugal e Angola.
Como em todas as edições, gravamos a leitura dos textos selecionados e de suas traduções graças às colaborações de Federico Falco e da Facultad de Información y Comunicación da Udelar. Nessa ocasião, nossa convidada especial, Cláudia Pires, cedeu sua voz para dar vida à crônica “Paris”, tanto em sua versão original como em sua respectiva tradução ao espanhol. Nossa convidada se define como uma brasileira de coração uruguaio, foi cantora e docente de língua portuguesa e é coach de voz para crescimento pessoal, aperfeiçoamento da comunicação, expressividade e presença. Para conhecer seu trabalho atual, é possível acessar seu Facebook: Cláudia Pires Coach. Os áudios de todos os textos podem ser acessados tanto em nossa página como em nosso canal de Youtube.
Agradecemos as participações de Emiliano Santos, que ilustra o autor de cada edição, e de Loli Espósito, artista plástica que ilustrou cada uma das crônicas deste número. Estendemos nosso agradecimento a todos aqueles que, de alguma maneira, colaboram dia a dia com a equipe de Pontis para que cheguemos cada vez a mais leitores e possamos contribuir com nosso grãozinho de areia neste vasto mundo da tradução literária.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Integrantes de Pontis