Saldíbar mastigou lentamente seu almoço com o olhar perdido em alguma mancha da parede. Sua mulher, o tempo todo na ...
Saldíbar mastigou lentamente seu almoço com o olhar perdido em alguma mancha da parede. Sua mulher, o tempo todo na frente dele, apenas levantou a vista do prato. Comer em silêncio e sem se olhar fazia parte de uma forma de vida deteriorada lenta, mas certamente pelo decorrer do tempo.
Quando ambos terminaram, Saldíbar comentou:
— Teria preferido massa, mas… enfim, já comemos, Raquel.
A mulher fez um gesto desdenhoso e começou a retirar os pratos.
— Ainda faz imposições — disse —, na cantina do Pablo também servem comida.
Saldíbar não respondeu, apenas se limitou a sorrir e a acender um cigarro, a começar a lenta digestão e deixar passar as próximas horas até a seguinte refeição.
A mulher sumiu com os pratos, e seus resmungos se transformaram em um murmúrio surdo como a chuva que caía desde o amanhecer.
Duas tragadas e Saldíbar se levantou da mesa. Hesitou entre fazer a sesta ou se dirigir para a porta. Ainda chove — pensou —, sempre chove nesta época, é curioso como tudo se repete.
A mulher continuava murmurando coisas, mas ele já não a ouvia. Agora estava na porta, contemplando as liquefeitas cores da rua, cheirando a umidade, considerando a possibilidade de ir até o café da rua Reus. Uma quadra não era suficiente para se molhar muito, embora talvez o melhor fosse dormir. Confundido por essa variedade de formas de não fazer nada que os aposentados têm, preferiu esperar a que a chuva cessasse.
Saldíbar masticó lentamente su almuerzo con la mirada perdida en alguna mancha de la pared. Su mujer, todo el tiempo frente a él, apenas si levantó la vista del plato. Comer en silencio y sin mirarse era parte de una forma de vida deteriorada lenta pero seguramente por el transcurso del tiempo.
Cuando ambos terminaron, Saldíbar comentó:
—Hubiera preferido pasta, pero… en fin, ya comimos, Raquel.
La mujer hizo un gesto desdeñoso y comenzó a recoger los platos.
—Todavía hay imposiciones —dijo—, en la fonda de Pablo también dan de comer.
Saldíbar no contestó, apenas se limitó a sonreír y a encender un cigarrillo, a comenzar la lenta digestión y transcurrir las próximas horas hasta la siguiente comida.
La mujer desapareció con los platos y sus rezongos se transformaron en un murmullo sordo como la lluvia que caía desde el amanecer.
Dos pitadas y Saldíbar se levantó de la mesa. Dudó entre dormir la siesta o salir a la puerta. Todavía llueve —pensó—, siempre llueve en esta época, es curioso cómo todo se repite.
La mujer seguía murmurando cosas, pero él ya no la oía. Ahora estaba en la puerta, contemplando los licuados colores de la calle, oliendo la humedad, considerando la posibilidad de llegar hasta el café de la calle Reus. Una cuadra no era suficiente para mojarse mucho, aunque tal vez lo mejor fuese dormir. Confundido por esa variedad de formas de no hacer nada que tienen los jubilados, prefirió esperar a que la lluvia cesara.
Quando voltava à sala de jantar, sua mulher o deteve:
— Aonde você vai, não vê que estou lavando o piso?
Pronto! Tinha ficado preso entre a sala de jantar e a porta da rua, prisioneiro em um escuro e frio saguão, sem outra alternativa senão esperar que sua mulher acabasse ou que a chuva cessasse.
Instintivamente, preferiu confiar na natureza.
Ao abrir novamente a porta, o chuvisco bateu no seu rosto. Chovia cada vez mais forte e de lado. Impossível sair.
Não obstante a umidade, preferiu deixar a porta aberta: pelo menos teria luz e poderia ver como o temporal amainava.
Nas pontas dos pés, se aproximou da porta da sala de jantar para observar os progressos da limpeza. O panorama era desolador. Abundante e ensaboada água inundava todo o chão, enquanto, freneticamente, sua mulher se afanava com panos e escovões, presa desse furor demente com que se lançava a esse tipo de afazeres.
Saldíbar sabia perfeitamente que toda tentativa seria inútil. Raquel não deixaria que ele desse um só passo sobre seu piso: os sapatos molhados manchariam sua obra.
Ao acender o segundo cigarro, optou por voltar à porta. Com horror viu como a água molhava copiosamente os degraus do pequeno saguão. Lá fora a chuva tinha varrido todo sinal de vida que houvesse na rua.
Cuando volvía al comedor su mujer lo detuvo:
—¿A dónde vas, no ves que estoy lavando el piso?
Ya estaba. Había quedado atrapado entre el comedor y la puerta de calle, prisionero en un oscuro y frío zaguán, sin otra alternativa que esperar a que su mujer terminara o que la lluvia cesase.
Instintivamente prefirió confiar en la naturaleza.
Al abrir nuevamente la puerta, la llovizna le dio en la cara. Llovía cada vez más fuerte y de costado. Imposible salir.
No obstante la humedad, prefirió dejar la puerta abierta: por lo menos tendría luz y podría ver cómo el temporal amainaba.
En puntas de pie se acercó a la puerta del comedor para observar los progresos de la limpieza. El panorama era desolador. Abundante y jabonosa agua inundaba todo el piso, mientras, frenéticamente, su mujer se afanaba con trapos y escobillones, presa de ese furor demente con que se abocaba a ese tipo de tareas.
Saldíbar sabía perfectamente que todo intento sería inútil. Raquel no dejaría que él diese un solo paso sobre su piso: los zapatos mojados mancharían su obra.
Encendiendo el segundo cigarrillo, optó por volver a la puerta. Con horror vio cómo el agua mojaba copiosamente los escalones del pequeño zaguán. Afuera la lluvia había barrido con todo signo de vida que hubiera en la calle.
Com presteza fechou a porta. Se Raquel visse o chão molhado, com certeza discutiriam. Sua mulher abundaria em considerações sobre sua lerdeza, seu descuido, sua falta de cooperação e caprichos senis de abrir a porta quando chove. Nesse momento, se lamentou profundamente de ter se casado com uma maníaca por limpeza, e, por um instante, sentiu o impulso de entrar resolutamente na sala de jantar, pisar no molhado, chutar baldes e escovões, olhar de um jeito desafiante para Raquel e depois ir para o quarto, se deitar e dormir até a chuva cessar. Talvez um único ato de rebeldia mudasse tardiamente sua vida.
Ao se aproximar novamente da porta da sala de jantar, o olhar abrupto de Raquel fez com que se detivesse, como se fosse uma criança prestes a cometer uma travessura.
— Nem um passo mais! Ainda aqui, você não tinha ido para o boteco? — disse Raquel, autoritária, despótica.
Ia responder que não, que chovia, que queria ir para o quarto e se deitar, que tinha frio. Não pôde. Raquel fechou a porta da sala de jantar, como se não fosse suficiente toda a água que tinha jogado para impedir que ele passasse.
Agora sim que a coisa ficava difícil. Isolado entre duas portas fechadas, Raquel de um lado, a chuva do outro, escassa luz, umidade e frio. E essa horrível sensação de se sentir prisioneiro.
Con presteza cerró la puerta. Si Raquel veía el piso mojado, seguramente discutirían. Su mujer abundaría en consideraciones sobre su torpeza, descuido, falta de cooperación y caprichos seniles de abrir la puerta cuando llueve. En ese momento se lamentó profundamente por haberse casado con una maniática de la limpieza, y por un instante sintió el impulso de entrar resueltamente al comedor, pisar sobre lo mojado, patear baldes y escobas, mirar con gesto desafiante a Raquel y luego llegar al dormitorio, acostarse y dormir hasta que cesara de llover. Tal vez un solo acto de rebeldía cambiase tardíamente su vida.
Al aproximarse nuevamente a la puerta del comedor, la abrupta mirada de Raquel lo hizo detenerse, como si fuera un niño a punto de cometer una travesura.
—¡Ni un paso más! ¿Todavía aquí, no te habías ido al boliche? —dijo Raquel, autoritaria, despótica.
Iba a contestar que no, que llovía, que quería ir al dormitorio y recostarse, que tenía frío. No pudo. Raquel cerró la puerta del comedor, como si no fuera suficiente toda el agua que había echado para impedir que él pasase.
Ahora sí que la cosa se ponía difícil. Aislado entre dos puertas cerradas, Raquel de un lado, la lluvia del otro, escasa luz, humedad y frío. Y esa espantosa sensación de sentirse prisionero.
Quando olhou para o chão, estremeceu. As pegadas de seus sapatos eram claramente visíveis sobre a laje. A água tinha operado seu efeito devastador sobre o pó acumulado e agora tinha se formado uma película viscosa e suja que cobria todo o chão do saguão. Considerou que era o momento oportuno para fugir. Se Raquel fosse até lá, veria que ele tinha sido o culpado de tal caos. Ela o veria vacilante e culpado, sem ter ido embora ainda, após ter caminhado sem cessar durante quinze minutos em um saguão de três metros por um.
Abriu a porta da rua decidido a tudo.
A chuva continuava caindo implacavelmente. Surda, sem trégua, como fazia já seis horas.
Assomou a cabeça e mediu com avidez a distância que o separava do boteco. Não seria uma loucura começar a correr e chegar molhado, mas triunfante ao que, de certa forma, representava a liberdade. Ali teria uma cadeira, uma janela e alguma grappa que lhe ajudaria a suportar a tarde, a chuva, o ócio pelo próprio ócio.
De qualquer jeito, a possibilidade da sesta não estava descartada. Caso Raquel tivesse acabado e tivesse se deitado já. Com a sala de jantar livre de barreiras e sem a presença de Raquel, era possível pegar um pano, secar o saguão e depois penetrar no quarto como se nada tivesse acontecido, se deitar e dormir. Até que a chuva terminasse.
Cuando miró el piso, se estremeció. Las huellas de sus zapatos eran claramente visibles sobre el embaldosado. El agua había operado su efecto devastador sobre el polvo acumulado y ahora se había formado una película viscosa y sucia que cubría todo el piso del zaguán. Consideró que era el momento oportuno para huir. Si Raquel llegaba hasta allí, vería que él había sido el culpable de tal desquicio. Lo vería vacilante y culpable, sin haberse ido aún, después de haber caminado sin cesar durante quince minutos en un zaguán de tres metros por uno.
Abrió la puerta de calle decidido a todo.
La lluvia continuaba cayendo implacablemente. Sorda, sin respiros, como hacía ya seis horas.
Asomó la cabeza y midió con avidez la distancia que lo separaba del boliche. No sería una locura largarse a correr y llegar mojado pero triunfal a lo que en cierta forma representaba la libertad. Allí habría una silla, una ventana y alguna grappa que le ayudaría a soportar la tarde, la lluvia, el ocio por el ocio mismo.
De todas maneras, la posibilidad de la siesta no estaba descartada. Acaso Raquel había terminado y se había recostado ya. Con el comedor libre de barreras y sin la presencia de Raquel era posible tomar un trapo, secar el zaguán, y luego penetrar en el dormitorio como si nada, acostarse y dormir. Hasta que la lluvia terminase.
Decidido já, fechou a porta da rua e se encaminhou para a sala de jantar. Sua mão se crispou sobre a maçaneta da porta: estava fechada por dentro. Sem dúvida, Raquel já tinha acabado e, achando que ele já tinha saído, tinha trancado com chave para ir dormir.
Pensou em bater. Rejeitou a ideia imediatamente. Raquel tinha o sono profundo e não o ouviria, e, em caso contrário, ao abrir e ver que era ele quem incomodava, discutiriam.
Além disso, descobriria o estado do chão do saguão.
Descartada a possibilidade da sesta, a aventura de sair à rua lhe pareceu a única finalidade da sua vida.
Abriu novamente a porta da rua e recuou como se fosse tomar impulso. Nesse momento, se deu conta de que não tinha dinheiro. Um por um revisou seus bolsos e a única coisa que encontrou foi uma moeda de vinte centavos que não servia nem para gorjeta.
Mais uma vez se sentiu lerdo e indefeso, velho e inútil. Compreendeu que seu único lugar possível era sua casa, a reclusão, a submissão a uma mulher mais nova que ele.
Sem dinheiro, chegar ao boteco parecia uma temeridade. Deveria pedir fiado, coisa que ele não gostava. Inclusive chegar molhado e sem dinheiro pareceria deprimente para os que o conheciam. Apesar disso, era mais digno que estar prisioneiro na sua própria casa. Se estivesse o Flaco Ávila, podia lhe pedir emprestado. Até o próprio dono do boteco compreenderia o involuntário esquecimento.
Decidido ya, cerró la puerta de calle y se encaminó hacia el comedor. Su mano se crispó sobre el picaporte de la puerta: estaba cerrada por dentro. Sin duda Raquel ya había terminado y, pensando que él ya se había ido, había cerrado con llave para irse a dormir.
Pensó en golpear. Lo desechó inmediatamente. Raquel tenía un sueño profundo y no lo oiría, y en caso contrario, al abrir y ver que era él quien molestaba, discutirían.
Además descubriría el estado del piso del zaguán.
Descartada la posibilidad de la siesta, la aventura de salir a la calle le pareció el único fin de su vida.
Abrió nuevamente la puerta de calle y retrocedió como para tomar impulso. En ese momento se dio cuenta de que no tenía dinero. Uno por uno revisó sus bolsillos y lo único que encontró fue una moneda de veinte centésimos que no servía ni para propina.
Una vez más se sintió torpe e indefenso, viejo e inútil. Comprendió que su único lugar posible era su casa, la reclusión, el sometimiento a una mujer más joven que él.
Sin dinero, llegar al boliche resultaba una temeridad. Debería pedir fiado, cosa que no le gustaba. Incluso llegar mojado y sin dinero resultaría deprimente para los que lo conocían. No obstante eso, era más digno que estar prisionero en su propia casa. Acaso estuviera el Flaco Ávila, al cual podía pedirle prestado. Hasta el propio bolichero comprendería el involuntario olvido.
Acendeu o terceiro cigarro e, com uma mistura de euforia e raiva, saiu para fazer frente à chuva.
As primeiras gotas se cravaram na sua testa como agulhas. O vento bagunçou os seus ralos cabelos e um súbito frio percorreu suas costas. Encolhendo-se contra a parede, avançou um trecho quase sem abrir os olhos, pisando lajotas soltas e pulando drenagens. No entanto, a inclemência não o esmoreceu, se sentia feliz de ter abandonado o saguão.
Agora tudo voltava à normalidade. Raquel dormindo e ele rumo ao boteco. Instalado ali, as horas e a conversa lhe fariam esquecer do mau momento do saguão. Ao final da tarde, o fato entraria no terreno do anedótico.
Caminhava distraído e ignorante da chuva quando, mediando a quadra, um cachorro saiu do nada e, proferindo ameaçantes grunhidos, se lançou sobre Saldíbar. Um pulo a tempo, os passos rápidos, o cachorro latindo nos seus calcanhares, a poça, os pés dentro da poça, o grito do dono, a salvo outra vez. Com o coração batendo apressadamente, Saldíbar se sentiu humilhado, ridículo no meio do aguaceiro.
E ainda faltava meia quadra para chegar.
Pensou que nessa tarde tinham lhe acontecido muitas coisas, e que o melhor seria se sentar de uma vez na mesa junto à janela, vendo chover em silêncio, jogando conga, talvez.
Eludindo novas poças e drenagens, chegou por fim ao boteco.
Prendió el tercer cigarrillo y con una mezcla de euforia y rabia salió a hacerle frente a la lluvia.
Las primeras gotas se clavaron en su frente como agujas. El viento le desordenó los ralos cabellos y un súbito frío le recorrió la espalda. Acurrucándose contra la pared, avanzó un trecho casi sin abrir los ojos, pisando baldosas flojas y saltando desagües. Sin embargo, la inclemencia no lo amilanó, se sentía feliz de haber abandonado el zaguán.
Ahora todo volvía a la normalidad. Raquel durmiendo y él rumbo al boliche. Instalado allí, las horas y la charla le harían olvidar el mal rato del zaguán. Al final de la tarde el hecho entraría en el terreno de lo anecdótico.
Caminaba distraído e ignorante de la lluvia cuando, promediando la cuadra, un perro salió de quién sabe dónde y profiriendo amenazadores gruñidos se abalanzó sobre Saldíbar. Un salto a tiempo, los pasos rápidos, el perro ladrándole en los talones, el charco, los pies dentro del charco, el grito del dueño, a salvo otra vez. Con el corazón latiendo apresuradamente, Saldíbar se sintió humillado, ridículo en medio del aguacero.
Y todavía faltaba media cuadra para llegar.
Pensó que en esa tarde le habían ocurrido demasiadas cosas, y que lo mejor sería sentarse de una vez en una mesa junto a la ventana, viendo llover en silencio, jugando a la conga, tal vez.
Sorteando nuevos charcos y desagües, llegó por fin al boliche.
O cinza metálico da porta fechada o sacudiu com a violência do inesperado. Em pé junto à porta, ensopado já, contemplou longamente aquela clausura, insuspeita até então, dolorosamente real agora.
Nem quis pensar que insondáveis causas tinham determinado que o boteco estivesse fechado justo nessa hora. Só importava essa realidade irrefutável. O único sol possível nessa tarde opaca tinha se extinguido inexplicavelmente. Agora restavam a rua deserta, uma porta fechada, a chuva penetrando nas coisas, o silêncio inefável da solidão, talvez a certeza de ter fracassado mais uma vez.
Lentamente começou a caminhar. Já não lhe importava continuar se molhando. A chuva foi se metendo entre as roupas pouco a pouco, deslizando pelos seus membros cansados, penetrando na sua boca e se misturando com a sua saliva amarga, dissolvendo o calor da esperança remota, matando o sonho de uma tarde tranquila perdida em uma mesa de boteco.
Ao chegar em casa, abriu a porta sem vontade, e, pingando, penetrou no saguão.
Com cuidadoso movimento, se sentou em um dos degraus e se encostou na parede. Com o lenço, secou um pouco o rosto e as mãos.
Tinha frio. Mas pelo menos no saguão não chovia.
Faltava uma hora para que Raquel levantasse.
Acendeu o quarto cigarro e se dispôs a esperar.
Traduzido por Leticia Lorier e Manuela Pequera
El gris de las cortinas bajas lo sacudió con la violencia de lo inesperado. De pie junto a la puerta, empapado ya, contempló largamente aquella clausura, insospechada hasta entonces, dolorosamente real ahora.
No quiso pensar qué insondables causas habían determinado que el boliche estuviera cerrado justo en ese momento. Solo importaba esa realidad incontrastable. El único sol posible en esa tarde opaca se había extinguido inexplicablemente. Ahora quedaban una calle desierta, unas cortinas bajas, la lluvia penetrando las cosas, el silencio inefable de la soledad, acaso la certeza de haber fracasado una vez más.
Lentamente empezó a caminar. Ya no le importó seguir mojándose. La lluvia se le fue metiendo poco a poco entre las ropas, deslizándose por sus miembros cansados, penetrando en su boca y mezclándose con su saliva amarga, disolviendo el calor de la esperanza remota, matando el sueño de una tarde tranquila perdida en una mesa de boliche.
Al llegar a la casa abrió la puerta con desgano y goteando penetró en el zaguán.
Con cuidado movimiento se sentó en uno de los escalones y se recostó en la pared. Con el pañuelo se secó algo la cara y las manos.
Tenía frío. Pero por lo menos en el zaguán no llovía.
Faltaba una hora para que Raquel se levantara.
Prendió el cuarto cigarrillo y se dispuso a esperar.