Depois da machadada, Duarte se afastou um pouco. Olhou para cima tentando ver onde a árvore ia cair. Ela foi caindo devagar...
Depois da machadada, Duarte se afastou um pouco. Olhou para cima tentando ver onde a árvore ia cair. Ela foi caindo devagar como que olhando onde ia morrer. A copa, desabando, ficou dourada de sol. Um sol que ela arrastou e apertou contra a terra. Após o silêncio do mato, se ouviram claros dois ou três golpes longínquos; o gemido de um tronco — desengonçado, o golpe firme deixa o coração desfeito unido em fios em pé — e em seguida um ruído como o de um balde cheio d’água sendo pinchado. O galharedo chicoteando a terra.
Antes de recomeçar a machadar a outra, Duarte deu um assobio longo. De longe, o outro mateiro respondeu. — Entendido: ele viria ao assobio.
Dali a pouco, fazendo soar a folharada dos tocos secos, ele chegou. Duarte, em silêncio, lhe alcançou o fumo crioulo. Só depois que enrolaram os cigarros, eles abriram a prosa.
Duarte era um homem baixo e forte. Ele tinha uma cor azeitonada. — “Eu acho que eu sou meio verde ansim de andar por entre as árvore” … — coisa rara num homem do seu tipo. Embaixo ele era fino. Da cintura para cima, ele tinha uma camisa grossa sem mangas que lhe guardava o peito “de caixão grande” e um tórax em forma de V, duro como uma trancha.
— Óia, eu le chamei pra prosear… Você tá se arrebentando, ôme… Não é o caso de trabaiá e trabaiá…
Sobre el hachazo Duarte se retiró un poco. Miró hacia arriba buscando ver dónde caería el árbol. Este fue cayendo despacio como mirando dónde iba a morir. La copa, al desplomarse, se doró de sol. Un sol que arrastró y apretó contra la tierra. Tras el silencio del monte, se sintieron claros dos o tres golpes lejanos; el quejido de un tronco —chamboneado, el golpe firme deja el corazón deshecho unido en hilos al pie— y luego un ruido como un baldazo de agua zampado. La ramazón al azotar la tierra.
Antes de recomenzar el hacheo del otro, Duarte pegó un silbido largo. Desde lejos el otro monteador contestó. —Entendido: vendría al silbido.
A poco, haciendo sonar la hojarasca de las colas secas, llegó. Duarte, en silencio, le alcanzó la chupa. Recién después que armaron abrieron prosa.
Duarte era un hombre bajo y fuerte. Tenía un color aceitunado —«Yo creo que soy medio verde di andá entre árbole»…—, raro en hombres de su tipo. Era fino de abajo. Cintura arriba tenía una camisa gruesa desmangada que le guardaba el pecho «de cajón grande» y un tórax en forma de V, duro como una trancha.
—Mire, lo yamé pa prosiar… Usté s’está reventando… no es cuestión de meterle y meterle…
Duarte, tão duro, tinha se suavizado desde que veio esse companheiro. Ele sentia que o outro era um homem que merecia a sua amizade. Para não apequená-lo, ele lhe mentia piedoso:
— Você acha que eu cortava mais do que você quando que eu vim? Não! E eles eram mais fino. Esses aí são enorme!… — E disse também: — Se eu fosse que nem você, aliás, eu não tava trabaiando aqui!...
O outro perguntou por quê.
— Por quê? Você não vê que isso aqui é o rabo do mundo? Pior, é as cascarria do rabo do mundo!…
Então no fim Velázquez lhe contou como e por que ele veio trabalhar.
— Eu vi uma placa na porteira oferecendo trabalho. E como eu tava procurando justamente isso, trabalho, eu entrei.
— Você vai pro garpão grande, ou vai dormir que nem “pampa”1?
________________________________________
1Que nem índio pampa. Nesse caso, ao ar livre.
Duarte, tan duro, se había suavizado desde que vino este compañero. Sentía que era un hombre que merecía su amistad. Para no empequeñecerlo le mentía piadoso:
—¿Usté cre que yo voltiaba más qui usté al venir? ¡No! Y eran más finos. ¡Estos son soberbios!… —También le dijo—: ¡Si yo juera como usté, nomá no taba trabajando aquí!…
Preguntó por qué el otro.
—¿Por qué? ¡No ve que esto es la cola’el mundo!… Más, ¡las cascarrias de la cola’el mundo!…
Entonces al fin Velázquez le contó cómo y por qué vino a trabajar.
—Vi un letrero en la portera ofreciendo trabajo. Y como buscaba eso mismo, trabajo, entré.
—¿Usté va dir al galpón grande o va dormir a lo pampa1?
________________________________________
1A lo indio pampa. En este caso, al aire libre.
Que lhe explicasse. Ele não entendia. Bem sabia que ele era de Montevidéu.
— No garpão é os estrangeiro que dorme, ou os uruguaio muito flouxo.
Que nem pampa era dormir que nem ele; numa choça de ramos de eucalipto ou perto da choça, se estivesse calor. Comer e matear na hora que quisesse…
Terminou com esta frase:
— Quando que eles tão dormindo, o garpão é que nem um hospital!…
Velázquez aceitou dormir que nem pampa.
* * *
O ar começava a ficar cheiroso. As plantas cortadas sangravam com um perfume honrado, forte e penetrante. Um longínquo burburinho vinha se aproximando no abanar das copas. Por um respiro do mato — largo vinte metros — cruzou um bando de pombas caseiras.
— Isso é pomba? — disse Velázquez.
Que le explicara. Él no entendía. Bien sabía que él era de Montevideo.
—En el galpón duermen los gringos o los orientales muy flojos.
A lo pampa era dormir como él; en una choza de ramas de eucalipto o cerca de la choza si hacía calor. Comer y matear a la hora que quisiese…
Terminó con esta frase:
—¡El galpón es com’un hospital cuando tan durmiendo!…
Velázquez aceptó dormir a lo pampa.
* * *
El aire comenzaba a ponerse oloroso. Las plantas hachadas se desangraban en un perfume honrado, fuerte y entrador. Un lejano rumor venía acercándose en el abanar de las copas. Por un respiro del monte —ancho veinte metros— cruzó una bandada de palomas caseras.
—¿Palomas? —dijo Velázquez.
— Sim, pomba. É só o que se vê por aqui… Os outro pássaro não querem nada com esses bicho…
Ele indicava os eucaliptos.
— É uma árvore feiaça!…
Velázquez não achava feios. Pelo contrário. Muito lindos. E úteis… Tão retos e com perfume!… Um dia seriam mais bem aproveitados. Era uma pena como eles acabavam destroçados agora...
* * *
Velázquez vinha de Montevidéu. Para não contar as coisas como eram, lhe disse que tinha saído correndo por causa “de um assunto meio feio com uma moça”.
— Tem que escoiê as que não têm ermão…
Duarte era sempre assim. Pensava no pior. Para cortar a conversa que estava pegando um rumo complicado, Velázquez se referiu ao trabalho.
— Eu não tenho medo do trabalho… Eu sei que derrubar vinte árvore é uma vergonha… Mas ele nunca tinha trabalhado com isso.
—Sí, palomas. L’único que se ve por aquí… Lojotro pájaro no quieren cuenta con estos bichos…
Señalaba los eucaliptus.
—¡Es un árbol feazo!…
A Velázquez no le parecía feo. Al contrario. Muy lindo. Y útil… ¡Tan derechos y con perfume!… Algún día se aprovecharían mejor. Era una lástima cómo se destrozaban ahora…
* * *
Velázquez venía de Montevideo. Por no contarle las cosas como eran, le dijo que había disparado por causa «de un asunto un poco feo con una muchacha».
—Hay que elegir qui no tengan hermanos…
Duarte era siempre así. Pensaba lo peor. Por cortar la conversación que iba por mal lado, Velázquez se refirió al trabajo.
—Yo no le tengo miedo al trabajo… Bien veo que voltiar veinte árboles es una vergüenza… Pero él nunca había trabajado en eso.
— Eu que o diga!… Quando que eu vim, acontecia d’eu me deitar e eu não conseguia dormir de tão cansado!...
— É brabo o cansaço...
— Eu me ajeitava de todas maneira… Fazia cochão de fôia… E sabe o que que acontecia?… Eu só dormia de madrugada, boca pra cima, oiando o céu… Eu sempre sonhava com muié e acordava cos rim estropeado…
* * *
Velázquez não era homem para aquilo. Dava para ver bem. Ele estava ali porque isso era de qualquer forma melhor do que ir morrendo pouco a pouco nas ruas de Montevidéu… Além do mais ele estava ficando forte, são…
— Logo logo eu vou dar uma escapada…
— Eu não gasto porque eu tô juntando pruma carroça jardineira...
— Ahá!
— Sim, uma jardineira cuma caixa de tela dembaixo pras galinha… Deve ser lindo ir debaixo d’água numa jardineira!…
—¡Si sabré yo!… ¡Cuando vine, pasaba que me acostaba y no podía dormir de cansao!…
—¡Es bravo el cansancio!…
—Me acomodaba’e todas maneras… Hacía colchón di hoja… Y, ¿sabe lo que pasaba?… Me dormía de madrugada, boca arriba, mirando el cielo… Siempre soñaba con mujeres y amanecía deshecho de los riñones…
* * *
Velázquez no era hombre para aquello. Bien se veía. Estaba allí porque siempre era mejor que irse muriendo poco a poco en las calles de Montevideo… Además se estaba poniendo fuerte, sano…
—Pronto voy a hacer una escapada…
—Yo no gasto porque toy juntando pa una jardinera…
—¡Ajá!
—Sí. Una jardinera con cajón de tejido abajo pa gallinas… ¡Debe ser lindo ir bajo agua en una jardinera!...
A ambição dele era passar trabalho pelos caminhos com uma jardineira.
A prosa era ótima. Duarte contava a Velázquez o que ele pensava no mato. Compreendia que o seu amigo “entendia todas as bobagens que ele podia pensar”…
* * *
Falavam de noite. Noites que o montevideano sorvia no perfume do mato e no céu repleto de estrelas brilhantes. As estrelas ardiam de luz, e os grilos, de sons. As copas do arvoredo se inclinavam suaves, mostrando rodas de estrelas. De repente, outro vento as chamava e elas varriam a roda brilhante mostrando outra coisa.
— Ó, ó Velázquez… Parece uma canga de carroça!
Duarte conversava arrastando a prosa de Velázquez como um galharedo pesado.
* * *
Agora tinha avivado a demanda. Tinha uns cinquenta homens a mais. O pagamento era feito no fim de semana, depois de descontar a carne e o mate. Os derrubadores cobravam por árvore. Os estocadores por centos. Cobravam pouco, tão pouco que, para tirar a diária, eles tinham que trabalhar de estrela a estrela.
La ambición de él era pasar trabajo en los caminos con una jardinera.
La prosa era muy linda. Duarte le contaba a Velázquez lo que pensaba en el monte. Comprendía que su amigo «entendía todas las bobadas que pudiera pensar él»…
* * *
Hablaban de noche. Noches que el montevideano sorbía en el perfume del monte y en el cielo completo de estrellas brillantes. Las estrellas ardían de luz y los grillos de sonidos. Las copas de la arboleda se inclinaban suaves mostrando ruedas de estrellas. De golpe las llamaba otro viento y barrían la rueda brillante mostrando otra cosa.
—Mire, mire, Velázquez… ¡Parece un yugo’e carreta!…
Duarte conversaba arrastrando la prosa de Velázquez como una ramazón pesada.
* * *
Ahora había arreciado la demanda. Había como cincuenta hombres más. Se pagaba a fin de semana, luego de descontar la carne y la yerba. Los volteadores cobraban por árbol. Los astilleros por ciento. Cobraban poco, tan poco que para sacar jornal debían trabajar de estrella a estrella.
Duarte, perto de realizar seu desejo de ter uma jardineira, ia odiando aquela vida. Muita culpa tinha Velázquez desse ódio. Pouco a pouco ele foi incutindo isso em Duarte.
Agora que Duarte não precisava de incitações, era estranho que fosse Velázquez o defensor dos donos do mato.
— Você acha que eles pagam pouco porque eles não pode?...
Fazia quatro anos que ele trabalhava ali. Certo que às vezes os mateiros não passavam de seis ou sete. Mas ele nunca viu o fim do mato. Quando os mateiros se afastavam em sua marcha devastadora, o galharedo cinza-leitoso dos brotos sorvia os golpes como algodão e, no fundo, se erguiam as árvores que haviam sido talhadas meses antes.
— Os home tão pô’ de grana!... Eles nem vêm no mato!... Quando que você pede mais, o encarregado diz que não pode!...
* * *
Violenta, a demanda. Para dar conta dos pedidos, deram ordem de trabalhar de noite.
Duarte, cerca de realizar su deseo de tener una jardinera, iba odiando aquella vida. Mucha culpa tenía Velázquez de este odio. Poco a poco él fue entrándoselo.
Ahora que Duarte no necesitaba incitaciones, resultaba raro que fuera Velázquez el defensor de los dueños del monte.
—¿Usté cre que pagan poco porque no pueden?…
Desde hacía cuatro años trabajaba él. Cierto que a veces los monteadores no pasaban de seis o siete. Pero nunca vio el fin del monte. Cuando se alejaban los monteadores en su marcha devastadora, ya las ramazones grises lechosas de los brotes sorbían los golpes como algodones y al fondo se levantaban los árboles que habían sido talados meses antes…
—¡Podridos en plata los individuos!… ¡Ni vienen al monte!… Cuand’usté pide más, ¡el encargao le dice que no puede!…
* * *
Rabiosa la demanda. Para dar abasto a los pedidos, dieron orden de trabajar de noche.
Um tal Améndola — que queria levantar um dinheiro fazendo render o seguro do rancho onde vivia sua mãe (sua patroa era finada) e a “ninhada” — cravou uma noite o machado e se foi de cabeça contra um tronco. Ou ele tinha algo desde antes nos pulmões ou isso lhe trouxe vômitos.
— Ondé que já se viu!... Trabaiando de noite e pagando como de dia!...
Ele não estava ali para trabalhar de noite. E menos ainda com o que pagavam.
— Mas Duarte — disse Velázquez — eles não obrigam ninguém... Trabalha quem quer!... Ninguém tá trabalhando amarrado!...
— Mas como não!... Logo você, hein... Não obrigam, não obrigam!... A necessidade tem cara de herege!...
Não respeitavam nada. Os faróis cruzavam como almas o arvoredo. E ele dizia que não obrigavam!
Velázquez saiu com uma de que era lindo ver as árvores cair no silêncio da noite!...
* * *
O fiscal, que fazia o que os patrões não se animavam a fazer, estava doente.
Un tal Améndola —que quería levantar un dinero a premio, con el seguro del rancho donde vivía su madre (su patrona era finada) y «la pichonada»— clavó una noche el hacha y se fue de cabeza contra un tronco. O tenía algo de antes a los pulmones o eso le trajo vómitos.
—¡No ve que nunca si ha visto!… ¡Trabajando’e noche y pagando como de día!…
Él no estaba por eso de trabajar de noche. Y menos con lo que pagaban.
—Pero, Duarte —dijo Velázquez—, no obligan a nadie… ¡Trabaja el que quiere!… ¡Nadie trabaja atao!…
—¡Pero comonó!… ¡M’estraña nusté… ¡No obligan, no obligan!… ¡La necesidá tiene cara’e hereje!…
No respetaban nada. Los faroles cruzaban como ánimas la arboleda. ¡Y él decía que no obligaban!
Velázquez salió con que ¡era lindo ver caer los árboles en el silencio de la noche!…
* * *
El apuntador, que hacía lo que los patrones no se animaban a hacer, estaba enfermo.
— Coitado!... Tomara que ele não sofra muito!...
Velázquez via crescer em Duarte um ódio grande pelo mato, por tudo. Sentia que isso também o incluía. E sentia que Duarte já não o considerava “um irmão, o único com quem ele falava bobagens pra se suavizar”.
— Você tá perto de terminar, Duarte... Tá perto da jardineira... Você não gosta do mato!
— Não! Eu fui criado no Cebollatí!... Vai comparar aquilo lá com isso!.. Eu não tô nem aí presse monte de árvore... Sem passarinho. Lisas que nem canela de nego... igualzinho... Não deixavam crescer nada embaixo... Eram umas mata-gente!
* * *
Ele já tinha tudo pronto. Ia embora no fim do mês.
— Eu até ficaria... Mas você foi virar fiscal!...
Tremia na voz dele uma reprovação, como uma faísca num pavio. Velázquez começava a fazer parte daquela situação tão absorvedora.
— Eu tinha me dado conta que você não era praquilo... Mas sério, fiscal não!...
—¡Pobre!… ¡No me gustaría que sufriera mucho!…
Velázquez veía crecer en Duarte un odio grande por el monte, por todo. Sentía que a él también lo envolvía. Y sentía que Duarte ya no lo consideraba «un hermano con el único con quien hablaba bobadas pa suavizarse»…
—Usté está cerca de terminar, Duarte… Está cerca de la jardinera… ¡No le gusta el monte!…
—¡No! ¡Yo soy criao nel Cebollatí!… ¡¿Va comparar aquello con esto?!… M’encargo en los miyone di árboles… Sin pájaros. Lisos como caniya’e negro… igualitos… No dejaban vivir nada abajo… ¡Eran unos matagente!…
* * *
Ya tenía todo pronto. Se iba a fin de mes.
—Me hubiera quedao… ¡Pero usté se jue di apuntador!…
Temblaba en la voz un reproche, como una chispa en una mecha. Velázquez empezaba a ser parte de aquello tan sorbedor.
—Me daba cuenta q’usté no era p’aqueyo… ¡pero qué quiere, apuntador, no!…
Velázquez o via inflado. Um pouco por culpa dele mesmo, que tinha lhe dado consciência de sua grandeza. Ele via Duarte grande como no dia em que elogiou as noites passadas que nem pampa. Quando ele também era grande. Grandíssimo. Dias em que ele estava perdendo a pele da cidade, ardida pelo sol e pelo suor, e as mãos se enchiam de bolhas que os cabos formavam e arrebentavam brutais. Quando estava perdendo a casca como uma cobra e sonhava que um dia ia liderar os mateiros para pedir algo ou arrancar algo... antes de dizer: ”Eles não obrigam ninguém... trabalha quem quer!”...
* * *
— Amigo Velázquez. Que Deus le ajude e não me desampare... Eu vim le pedir uma coisa... Uns toco pra estrear a carroça... Prum chiqueiro, sabe?
Velázquez primeiro riu. Depois disse que ele não podia dar nada. Nem isso. Não era dele... Como ele poderia dar?... Hein?...
* * *
Com a língua de fora, Duarte chegou no galpão.
Acontece que o mato estava começando a arder. Era a favor do vento.
Velázquez lo veía agrandado. Un poco por culpa de él mismo, que le había dado conciencia de su grandeza. Lo veía grande como el día que elogió las noches pasadas a lo pampa. Cuando él también era grande. Grandísimo. Días en que perdía la piel de la ciudad, ardida por el sol y el sudor, y las manos se le llenaron de ampollas que los cabos formaban y reventaban brutales. Cuando perdía la cáscara como una víbora y soñaba que un día iría a la cabeza de los monteadores a pedir algo o a arrebatar algo… antes de decir: «No obligan a nadie… ¡trabaja el que quiere!»…
* * *
—Amigo Velázquez. Que Dios lo ayude y a mí no me desampare… Una cosa le via pedir… Unas colas pa estrenar el carro… Pa un chiquero, ¿sabe?
Velázquez rio primero. Después le dijo que él no podía dar nada. Ni eso. No era de él… ¿Cómo lo iba a dar?… ¿Eh?…
* * *
Sin lengua llegó Duarte al galpón.
Pasaba que estaba comenzando a arder el monte. Era a favor del viento.
Um fiapinho azul tinha começado a correr pelos galhos finos dos tocos secos. Um fiapinho que às vezes dava voltas como um parafuso. Brincando.
Agora os fiapos saltavam até os ramos vivos. Da terra, eles se penduravam nas árvores. Pareciam pássaros. De uma árvore a outra. Passando-se um chasque2.
A fumaça formava seios côncavos como a água do mar ou dava cambalhotas. Outras vezes, a bolsa negra da fumaceira abria a boca e deixava cair um faisquedo que saía correndo que nem louco...
* * *
Foi um incêndio lindo. Duarte dizia que ele estava tranquilo. Não perigava nada. Nem bicho, nem gente, nem passarinho... Lenha e nada mais!...
* * *
Velázquez iniciaria de novo a buscar um rumo. Duarte começava a realizar seu desejo de andar pelos caminhos passando trabalho com uma carroça jardineira.
________________________________________
2"Chasque" se chamava o cavaleiro portador de uma mensagem. Nesse caso, se usa o termo para se referir à mensagem em si.
Tradução: Paulo Pappen
Una hilachita azul había comenzado a correr por los gajos finos de las colas secas. Una hilachita que a veces daba vueltas como un tornillo. Jugando.
Ahora las hilachas saltaban hacia las ramas vivas. Desde la tierra se colgaban en los árboles. Parecían pájaros. De un árbol a otro. Pasándose un chasque2.
El humo formaba senos cóncavos como el agua del mar o daba vueltas de carnero. Otras la bolsa negra de la humareda abría la boca y dejaba caer un chisperío que salía corriendo a lo loco…
* * *
Fue un incendio lindo. Duarte decía que él estaba tranquilo. No apeligraba nada. Ni bichos, ni hombres, ni pájaros… ¡Leña nada más!…
* * *
Velázquez comenzaría de nuevo a buscar rumbo. Duarte empezaba a realizar su deseo de andar por los caminos pasando trabajo con una jardinera.
________________________________________
1Chasque se llamaba al jinete portador de un mensaje. En este caso se usa el término para referirse al mensaje en sí.